segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Lembranças da Juventude

     LEMBRANÇAS DA JUVENTUDE

O dever de cidadão em cumprir o serviço militar, privou-me do conforto do berço que me embalou durante tantos anos, a minha Terra. Recordo sempre com muitas saudades o dia que a deixei para servir a Pátria como era meu dever. Retirar um brinquedo a uma criança que ela adore, há uma situação de desespero a dimensão desse sentir, também a vivi, fui arrancado para o desconhecido.

Este cumprimento que me fora determinado, proporcionou-me horas amargas. Deixava para trás tudo o que adorava. E lá fui, levando no coração a imagem viva da minha Terra. Foram momentos difíceis de viver.

Em Lisboa, entre tantas pessoas com que me cruzava, não encontrei uma única cara conhecida que me falasse da minha terra, estava num Mundo estranho onde tudo me era desconhecido. Com o decorrer dos tempos, a situação mudou e graças á Marinha de Guerra, tive a possibilidade de fazer algumas viagens por esse Mundo fora.

Diz o Povo e tem razão: a distância aumenta as saudades, eu, testemunho essa verdade. Tantas vezes bem distante do meu «berço» vinha com frequência á memória todas as recordações, algumas delas tinha a sensação de vivê-las no presente. Sentia como estivesse nos locais de origem. Entre tantas recordações, ocorreu-me uma delas: Quantas vezes sentado no carro «carroça» que na altura era puxado por uma pobre burra, com suas orelhas enormes e caídas dando a visão de seguir na minha frente uma avioneta. O seu andamento não alterava, para ela, subir ou descer, usava sempre a mesma velocidade. Era uma contradição para os meus jovens anos que me fervilhava no sangue aquela lentidão. Ela, essa burra, faz parte também das boas recordações e das façanhas desse tempo, tendo também saudades dela.

Passados muitos anos, para matar saudades, desloquei-me a Abela como o faço com alguma frequência, mas desta vez utilizei um tractor, percorrendo nesse dia aproximadamente cento e cinquenta quilómetros para tornar possível a minha presença nos locais, agora quase desertos e intransitáveis, concretizar esse sonho.

É impressionante como é possível guardarmos em memória tudo o que nos liga ao passado. Levava na ideia a visão das veredas polidas desse tempo, as estradas tão frequentadas por carroças e pessoas que se deslocavam em todos os sentidos.

As fontes, sempre limpas matando a sede aos que as procuravam. Os montes habitados e de uma brancura invejável, recordava-me o nome de muitos deles assim como o nome das pessoas que os habitavam. Nos locais mais marcantes, fazia uma paragem, apeava-me e tantas vezes aconteceu, sentir-me no envolvimento dessa época, Tudo está diferente, já não há veredas. As estradas perderam o movimento, as fontes que existem, não são frequentadas, os montes na sua maioria abandonados o que originou a redução de habitantes. Por essas paragens que fiz, sozinho, senti nesse silêncio, algo de diferente, tudo o que vi, pertence ao Passado. A única coisa que não mudou, são as saudades que sempre senti dessa Terra, suas gentes com imagens do passado que as mantenho vivas na memória.

Afinal, tudo isto aconteceu porque sem dar por isso, passaram setenta e um anos.

Mesmo com Saudosas Lembranças do Passado,

É saudável recordar.


 

    V. Marques


 

    

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