segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Lembranças da Juventude

     LEMBRANÇAS DA JUVENTUDE

O dever de cidadão em cumprir o serviço militar, privou-me do conforto do berço que me embalou durante tantos anos, a minha Terra. Recordo sempre com muitas saudades o dia que a deixei para servir a Pátria como era meu dever. Retirar um brinquedo a uma criança que ela adore, há uma situação de desespero a dimensão desse sentir, também a vivi, fui arrancado para o desconhecido.

Este cumprimento que me fora determinado, proporcionou-me horas amargas. Deixava para trás tudo o que adorava. E lá fui, levando no coração a imagem viva da minha Terra. Foram momentos difíceis de viver.

Em Lisboa, entre tantas pessoas com que me cruzava, não encontrei uma única cara conhecida que me falasse da minha terra, estava num Mundo estranho onde tudo me era desconhecido. Com o decorrer dos tempos, a situação mudou e graças á Marinha de Guerra, tive a possibilidade de fazer algumas viagens por esse Mundo fora.

Diz o Povo e tem razão: a distância aumenta as saudades, eu, testemunho essa verdade. Tantas vezes bem distante do meu «berço» vinha com frequência á memória todas as recordações, algumas delas tinha a sensação de vivê-las no presente. Sentia como estivesse nos locais de origem. Entre tantas recordações, ocorreu-me uma delas: Quantas vezes sentado no carro «carroça» que na altura era puxado por uma pobre burra, com suas orelhas enormes e caídas dando a visão de seguir na minha frente uma avioneta. O seu andamento não alterava, para ela, subir ou descer, usava sempre a mesma velocidade. Era uma contradição para os meus jovens anos que me fervilhava no sangue aquela lentidão. Ela, essa burra, faz parte também das boas recordações e das façanhas desse tempo, tendo também saudades dela.

Passados muitos anos, para matar saudades, desloquei-me a Abela como o faço com alguma frequência, mas desta vez utilizei um tractor, percorrendo nesse dia aproximadamente cento e cinquenta quilómetros para tornar possível a minha presença nos locais, agora quase desertos e intransitáveis, concretizar esse sonho.

É impressionante como é possível guardarmos em memória tudo o que nos liga ao passado. Levava na ideia a visão das veredas polidas desse tempo, as estradas tão frequentadas por carroças e pessoas que se deslocavam em todos os sentidos.

As fontes, sempre limpas matando a sede aos que as procuravam. Os montes habitados e de uma brancura invejável, recordava-me o nome de muitos deles assim como o nome das pessoas que os habitavam. Nos locais mais marcantes, fazia uma paragem, apeava-me e tantas vezes aconteceu, sentir-me no envolvimento dessa época, Tudo está diferente, já não há veredas. As estradas perderam o movimento, as fontes que existem, não são frequentadas, os montes na sua maioria abandonados o que originou a redução de habitantes. Por essas paragens que fiz, sozinho, senti nesse silêncio, algo de diferente, tudo o que vi, pertence ao Passado. A única coisa que não mudou, são as saudades que sempre senti dessa Terra, suas gentes com imagens do passado que as mantenho vivas na memória.

Afinal, tudo isto aconteceu porque sem dar por isso, passaram setenta e um anos.

Mesmo com Saudosas Lembranças do Passado,

É saudável recordar.


 

    V. Marques


 

    

48 Anos Depois

CARTA PUBLICADA EM 3/12/2OO8, NO JORNAL "NOTÍCIAS DO LITORAL"

48 ANOS DEPOIS


 

Por considerar esta fase da vida que vivi a mais marcante, achei interessante partilhar com o Jornal de Vossa Excelência e seus estimados Leitores, a minha satisfação num relato de uma história que é real e que guardei dentro de mim no silêncio do meu sentir durante quase cinco décadas. Sendo a de tantas outras, a mais marcante.

Em Novembro do Ano de 1959 determinou e muito bem, a Junta de Saúde Naval, do Hospital da Marinha, que fosse feito o meu internamento na Estância Senatorial do Caramulo, no Pavilhão Bela Vista para restabelecimento de um problema pulmonar que me fora detectado.

Apanhado de surpresa, começa aqui o maior martírio da minha vida. Essa "ordem" provocou-me uma onda de mau estar como se de um tribunal fosse lida e sentença de um crime cometido com gravidade.

Em Santa Apolónia e já no comboio "pára em todas" ocupei o meu lugar na carruagem que me levaria a Tondela e finalmente de autocarro, ao Caramulo.

A partida de Lisboa foi por volta das 24.00 horas, horas que já mais esquecerei.

Senti dar um salto cego para o desconhecido. Não saberei nunca descrever com clareza a amargura desses momentos tão difíceis e dos dias que na incerteza se seguiriam. Sozinho e na projecção dessa noite tormentosa e na incerteza do destino que me fora traçado, senti algo de muito estranho, senti os meus jovens 22 anos serem estrangulados por uma estranha força da Natureza, senti o Mundo desmoronar-se a meus pés ao certificar-me que deixava para trás na incerteza da recuperação, tudo o que me era familiar e querido, na escuridão dessa noite silenciosa, violenta e marcante, senti como que o fechar de uma pequenina caixa contendo nela todas as recordações da minha adolescência vivida nessa Terra que me viu nascer e que sabe perdoar as traquinices, com suas gentes que em cada rosto se lia uma história bonita e repleta de ternura, com seus recantos que me falam do Passado de onde guardo recordações tão belas dessa infância distante que o tempo apagou, mas dessa Terra por ser tão bela, tem como Padroeira a Nossa Senhora A "Bela".

Guardei-a bem guardada e sempre me acompanhou em momentos difíceis de suportar.

Finalmente essa caixinha imaginativa, foi aberta, podendo assim partilhar com todos os leitores essa dor que vivi e a alegria que hoje sinto.

Na viagem, o rodado do comboio sobre a linha férrea, provocava um som que jamais esquecerei "Tum…Tum…Tum…". O escuro que senti em mim, tornava mais densa a escuridão dessa noite. Já pela manhã, chego finalmente ao Caramulo onde era aguardado, depois de dez horas de viagens. Um percurso para esquecer.

Descrever aqui os momentos que se seguiriam á minha chegada, o leitor "a" com o coração no seu lugar, avalia-os certamente.

Diz o Velho Provérbio: "Depois da tempestade vem a bonança".

Para compensação, todo este "massacre" deu origem a acontecimentos bem importantes e agradáveis. Recordo sempre e guardarei para sempre a boa recordação daquela hora do regresso, quando me dirigia a pé para o autocarro, transportando uma mala com meus "bens", em sentido oposto, cruzei-me com uma "Velhinha" já meia curvada, trémula e com seu rosto marcado pelo decorrer dos anos, ao ver-me, e sabendo de onde eu vinha e para onde ia, em voz doce e terna disse-me:

Espere que vou ajudá-lo a levar-lhe a mala; respeitosamente não aceitei, mas manifestei-me agradecido com toda a ternura e respeito. Apeteceu-me ir ao encontro dela "dessa Velhinha", e apertá-la contra o meu peito em sinal de gratidão. Para essa "Velhinha", rogo sempre a Deus para que sua alminha generosa esteja sempre em paz e em bom lugar.

Essa grande lição, nunca a esquecerei, afinal quando queremos, fazemos sempre mais independentemente do nosso estado físico, bastando para isso, espírito de ajuda.

Mas eu conto toda esta história "Real" por uma razão bem forte e com um relato mais feliz.

Neste período de tempo, criaram-se bons amigos com quem partilhava-mos as horas menos boas e confortávamo-nos uns aos outros.

Afinal pondo de parte a causa que lá me levou, foram dez meses e onze dias que os posso classificar de bons e me deixaram muitas saudades. Aquele núcleo de amigos ocasionalmente ali criado, com o restabelecimento conseguido, a pouco e pouco se afastou uns dos outros para finalmente regressar-mos às nossas origens.

Quase no esquecimento e volvidos 48 anos, tenho conhecimento de que sou procurado por um desses velhos amigos, o meu grande e bom amigo Pires, que guarda religiosamente consigo uma foto minha em que estou fardado.

Vindo o meu amigo Pires, de Almeirim a Santiago do Cacem, ligado a Rádio Santarém e a convite da Rádio Santiago e não se esquecendo da minha naturalidade, entra em "investigação" e com a boa colaboração do Sr. Fernando "taxista" foi possível o primeiro contacto. A partir daí, tudo foi fácil.

O encontro foi no Porto Alto, como se previa, foi uma alegria estonteante. A unir essa separação de tantos anos, houve um forte abraço repleto de velhas saudades com mistura de alguma emoção, mas desta vez, com muita alegria.

Por graças do destino, reencontrámo-nos no mês de Agosto, exactamente no mesmo mês que há 48 anos nos separámos. Outra coincidência; o número de horas que levei na viagem, foram exactamente o número de meses que lá permaneci <10>.

Muito reconhecido, quero deixar um grande abraço de agradecimento aos simpáticos funcionários do Restaurante "Vira Milho" que com toda a simpatia tiveram a paciência de nos deixar permanecer á mesa durante 4 horas e com tanto movimento como é habitual, muito e muito obrigado.

Durante todas essas horas, recorda-mos algumas amarguras, mas também momentos bons e frente a frente de olhos nos olhos, confirma-mos que a juventude dos nossos rostos que gravámos na nossa memória há tantos anos atrás, se esvaiu com a corrida desenfreada do tempo, nos "assaltou" sem piedade e na sua linguagem muda está visível nas duas fotos que marcam as duas épocas, onde se confirma forte contraste de dois jovens sentados num banco antigo, sendo eu a figura do lado direito, olhando duvidoso ao incerto percurso da vida que o futuro me reservaria, na outra foto "actual" os menos jovens "Velhos" sentados num banco moderno, descansando as pernas da longa caminhada já percorrida, olhando ao passado que na vastidão da caminhada, nos apareceram flores, que no momento próprio não soubemos colher, contemplando na ordem decrescente essas férias que a morte nos concede.


 

Diz e muito bem o Velho Provérbio: Volta sempre a Primavera, só não volta a Mocidade; "Que Pena".


 


 

V. Marques



encontro… …e o reencontro


 


 


 

quinta-feira, 30 de julho de 2009


HISTÓRIA E MEMÓRIAS DE ABELA



Procurei tornar o mais real possível o relato histórico que deu origem e vida á Terra que eu adoro e me viu nascer, Terra que meu pai também tanto adorou.

Registe-se neste relato uma palavra de agradecimento á nossa querida conterrânea Maria Helena Barroso que tão gentilmente disponibilizou algumas fotos com imagens do Passado que aqui incluirei, assim como ao Sr. António Mestre que me cedeu tão simpaticamente, apontamentos de grande valor histórico da nossa Terra, que serão também aqui registados, ao António Pereira que me proporcionou um relato da vida do nosso Clube, ao meu amigo Pires de Almeirim que disponibilizou também, uma circular das festas de Abela no ano de 1960, que na altura eu lhe tinha enviado e que guardou muito religiosamente consigo durante 48 anos.

Graças ao Sr. C. Taleigo, foi possível registar aqui algumas fotos do Passado. Obrigado não só por esta excelente oportunidade, mas também pela divulgação conseguida desse Passado saudoso que o Sr. Taleigo tornou possível levá-lo aos quatro cantos do Mundo. Certo que todos os Abelenses lhe estarão gratos, eu em particular lhe agradeço muito, com tais imagens, em escassos segundos, senti voltar a esse saudoso Passado. Muito obrigado. O Abelense que ama a sua Terra, desconhece por vezes a ternurenta história que envolve todo o seu passado, que fala e recorda os seus antecedentes, das dificuldades existentes na época, mas também os seus divertimentos. Só conhecendo esse Passado, será mais fácil valorizar o futuro, missão gratificante que caberá aos jovens desta Terra.

Para os Abelenses e até mesmo para todos os portugueses, é gratificante saber que ao serviço da Nação Americana e nomeado pelo seu Presidente, o Sr. Obama, está um descendente de Abela, o Sr. David que é seu Assessor.


Tem como principais localidades Abela, Cova do Gato, Outeiro do Lobo, Boticos e Foros do Barão. Situa-se na margem esquerda do Rio Corona. Segundo alguns autores, o topónimo Abela poderá ter derivado da palavra Árabe, Abdella ou Abohadella. O conjunto de todas estas localidades é formado por 1107 habitantes numa extensão de 138,5 Km2. Nesta aldeia, foram encontrados vestígios de ocupação da Idade do Bronze «cerca de 1500 anos a.C. atinge-se a Idade do Bronze» que se destaca uma tampa insculturada de sepultura com a representação de uma espada presa a um cinturão, uma alabarda «arma composta de 1 haste rematada por um ferro pontiagudo, tendo no outro lado uma lâmina cortante» ídolo ou insígnia do Poder como que um Ceptro «bastão de apoio usado pelos Reis» encontrada na herdade das Pereiras sendo este um bem património histórico muito valioso e de grande interesse.

A origem de Abela, sabe-se que é uma das mais antigas povoações do Conselho, existindo desde 1314 (Século XlV). Nesta freguesia nasceu o Coronel Carlos Jesus Vilhena, aderente inicial da política do Estado Novo que posteriormente veio a combater. Grande lutador também pela causa da Liberdade. O seu espólio encontra-se no Arquivo Municipal. Em sua Homenagem, foi atribuída com seu nome, o Largo da Junta de Freguesia.


Diz a Lenda, que a Ribeira de Corona que passa por Abela, tem aliada a si, uma lenda em que os populares da altura diziam ter visto aparecer uma imagem de beleza inabalável que fazia lembrar a Nossa Senhora. Os habitantes da povoação, na sua fé pela aparição, ergueram uma igreja que no local mais tarde foi destruída para dar lugar às instalações da Junta de Freguesia. Desde a altura da aparição que se faz uma homenagem á Nossa Senhora de Abela


No ano de 1758 a antiga igreja, possuía cerca de 615 almas, uma igreja com cinco altares, com três irmandades confirmadas, Nossa Senhora de Abela, Nossa Senhora do Rosário e das Almas e um Pároco que era Freire Professo da Ordem de Santiago. Estava constantemente sujeira às cheias da Ribeira que muitas vezes lhe entravam e a arruinavam.

Eram famosas as festas e vividas com grande desejo religioso. Ao longo do ano, reservavam-se para estes dias festivos, os melhores trajes, eram dias diferentes, para serem vividos de maneira diferente também.

A fé á Nossa Senhora da Conceição «Padroeira de Abela» arrastava velhos e novos dos quatro cantos da freguesia e arredores. A devoção e a crença religiosa estavam estampadas em cada rosto. Respirava-se um ar acolhedor, notando-se entre as pessoas, tranquilidade, paz e respeito mútuo. Estes dias eram sempre os mais desejados do ano.

Cumpriam-se promessas, sendo confortante presenciar o elevado número de crentes na procissão empunhando suas velas acesas, protegidas pelo seu guarda-vento. O tão grande número de pessoas acompanhando a Santinha em procissão, oferecia uma visão deslumbrante e comovente.

O Adro da Igreja, tornava-se pequeno para acolher tão elevado número de pessoas. Mais serenos, com sua missão religiosa cumprida regressam as suas casas em plena paz de espírito.

Essa Igreja,"relíquia encantadora" que tantos desejos realizaram, já não existe.

Distribuído pela Junta de Freguesia de Abela e publicado em Abril de 2004, Gentes e Culturas, no caderno Temático nº 4 em: Figuras da Nossa Terra, diz e muito bem o Sr. Constantino da Estalagem Nova. Acerca da destruição da Igreja Velha e do Edifício da Estação dos Caminhos de Ferro de Abela, esquecendo-se de falar da retirada da ponte metálica que ligava as












duas margens junto a aldeia"Não compreendo porque é que o Povo não se revoltou». E disse muito bem, essa preciosidade também já não existe. O Povo viu e admitiu destruir-se para sempre uma célebre página da história de Abela Cabe ao tempo e aos jovens esse julgamento moral dessas perdas irrecuperáveis que tantas saudades deixaram.

Dessa Igreja, foi sacristão durante muitos anos, meu avô, António Marques Duarte Carneiro, nas instalações ao lado, ali viveu durante uma vida. Meu pai, Manuel Marques Carneiro, ficando conhecido por "Manuel Sacristão", ali nasceu e viveu durante quase uma vida. Na foto, junto á casa onde nasceu, com sua dedicatória, despede-se também do lugar que o viu nascer, e onde nasceram seus filhos também. É o final de uma vida aliada ao desmoronamento dessa relíquia que tantos anos lhe dedicaram com tanta dedicação e afecto.

É difícil valorizar um amor, assim como é fácil perde-lo para sempre.


Igreja Paroquial de Abela

Começou a ser construída em Novembro de 1901, como cumprimento de uma promessa eleitoral feita por um dos notáveis de Santiago do Cacem, embora as obras de construção fossem interrompidas logo após a implantação da Republica (1911), sendo após retomadas na década de 60/70 do Século XX, altura em que foi terminada.

Graças ao empenho dos Srs. Padres, Dourado e padre Hermano, associados às Festas e peditórios e com a grande e sempre pronta ajuda do povo, tornou-se possível concluir as obras que levaram ao acabamento desta grandiosa igreja, obra de tanto valor estimativo que tanto nos orgulha.


No ano de 1863, esta freguesia tinha mil habitantes dos quais só 28 sabiam ler.


No ano de 1866, era prior na Abela, o Sr. Padre António de Macedo que se dedicou ao estudo do Conselho, publicando os Anais do Município de Santiago de Cacem.








No ano de 1874, foi aberta ao trânsito a estrada entre Santiago de Cacem e Abela.


Localizada no Monte de João Velho, está a Fonte Santa de Abela. A sua construção será nos finais do Século XVIII ou princípios do Século XIX. Desconhecem-se as verdadeiras razões para a sua construção supondo-se que o local da sua construção seria os banhos para a cura de males como a lepra ou a sífilis que afligiam sobretudo as camadas mais desfavorecidas. A Fonte Santa, poderá encerrar o mistério de uma Lenda por ser rematada por um nicho «cavidade em parede para colocar estátua, urnas funerárias, imagens de Santos etc.» Que ostentava uma imagem que dava nome ao local semelhante ao da Fonte Santa do Cercal.


Durante a ocupação Romana, a Quinta de Corona foi um local dedicado á exploração agrícola tendo sido encontrada neste período uma Ara «pedra consagrada, colocada no meio do Altar, onde é colocado o cálice e a hóstia» embora de actualização incerta. Na idade média foi ocupada pelos Mouros, como atestam numerosos topónimos «nome próprio de um lugar» ligados á posse da terra, aos quais se juntavam no período Cristão, outras designações onomásticas «lista relação ou catálogo de nomes próprios» que remetem para a propriedade fundiária ligada á Ordem de Santiago como Mendo Afonso ou Mendo Afonsinho.


Na Herdade da Quinta de Corona existia uma Ermida dedicada a S. Brissos, «S. Brissos foi o 3º Bispo de Évora no ano de 305 depois de Cristo» hoje desaparecida. A sua fachada apresentava uma galilé «cemitério em alguns Conventos» com três arcos onde estavam dois painéis de azulejos com imagens do Milagre das Bilhas de S. António e a conservação de S. Humberto e ainda frontão neobarroco com um pequeno campanário e um registo de azulejos alusivo á Nossa Senhora de Fátima.



Muito antiga, cujo orago «Santo a quem é dedicado um Templo ou Capela» se festejava no dia 30 de Novembro de cada ano, com muita concorrência de devotos porque o Santo é advogado das sezões em que a freguesia era muito abundante.


Nos anos 40/50 existiam dispersos pela freguesia 141 montes habitados, de uma brancura invejável, podendo serem vistos a grande distância.


A Ribeira de Corona movia quatro moinhos de água nos arredores da freguesia e em pontos estratégicos, existiam cinco moinhos de vento. No seu conjunto, estes nove moinhos abasteciam de farinha toda a freguesia, bem essencial para o fabrico do pão, alimento fundamental na época.


Usos e tradições vividos na minha Terra

Por toda a aldeia e entre todos os Abelenses era vivido um ambiente familiar. Ao saber-se de alguém doente na aldeia, depressa se espalhava a notícia e o apoio era mútuo. Partilhavam-se opiniões, no conjunto, criavam-se ideias, dividiam-se tarefas, reinava em toda a Aldeia, harmonia consideração e respeito pelo próximo. Partilhava-se o positivo mas também o negativo, onde as tristezas mas também as alegrias se partilhavam. A confiança era mútua, as portas da rua, não se trancavam, a união era a força dominante.

Em dias de festejos, S. António, S. João e S. Pedro, os afazeres para embelezar as ruas, eram partilhados com igualdade, notando-se sempre uma união impar para que tudo decorresse com a maior normalidade possível. Enfeitar «embelezar» os mastros, era uma disputa, todos tentavam concluir com a maior perfeição o seu trabalho, dando-lhes o maior colorido possível, procurando ir ao encontro e encanto dos seus visitantes.

As tradicionais fogueiras em honra dos três Santos Populares, eram uma atracção, tentando-se sempre que uma fogueira fosse diferente <maior> que a do vizinho,

saltava-se sobre elas, pedindo-se um desejo.

Os mastros ao serem erguidos, era uma alegria, enfeitados a rigor, ofereciam uma visão incansável.

A dança, era formada por vários pares <rapaz e rapariga> que de mãos dadas e em redor do mastro, iam cantando, exprimindo livremente os versos ao seu sentir. Altura propícia para se arranjar namorico.

Durante o ano havia outros mastros, eram os mastros das promessas. Era feita uma promessa a determinado Santo por acontecimento digno desse acto religioso e no dia de sua realização <pagar a promessa> estava presente a pessoa que recebeu a Graça, os convidados e todos aqueles que livremente poderiam assistir ao acontecimento religioso. A constituição desse mastro de promessa tinha para além do seu embelezamento, vários arcos que continham em seu redor muitos biscoitos <frasca>. Cumprida a promessa, o mastro era derrubado e toda a doçaria era partilhada com os presentes. Estava assim cumprida a promessa.


O Sporting Futebol Clube Abelense

A 1 de Agosto de 1933, é inaugurado o Sporting Futebol Clube Abelense. Sócio e fundador desta colectividade desportiva, o Sr. António Pereira que em colaboração com outros associados conseguiram com muitas dificuldades e grande esforço, proporcionar a outros associados e a forasteiros, diversões de vária ordem, tão desejadas e bem aceites numa fase da Época onde as diversidades eram raras. A existência de uma pequena biblioteca, proporcionava cultura a todos aqueles que a procurassem. Ali, era ponto de encontro, trocavam-se opiniões e partilhavam-se ideias.

Para divertimento da população, organizavam-se bailes em que a sua música de dança era projectada através de um gira-discos em que o seu funcionamento dependia de uma manivela. Quantas vezes aconteceu que o elemento assistente e responsável pela aparelhagem musical, deixar o seu par dançante e dirigir-se à pressa para dar mais umas voltas á manivela e a música, novamente ganhava o seu ritmo e tudo normalizava. Outro bailes realizados a toque de gaita-de-beiços <realejo>. Coitado do tocador, chegava a ferir os lábios depois de tanto tocar.




Surge o acordeão, tudo vibrava e andava numa roda-viva, na Época, eram famosos os corridinhos de origem algarvia, o tango e as valsas que proporcionavam uma dança elegante.

Entre tantos outros bailaricos, vem o Baile da Pinha, foi um êxito. Segundo as normas, só um par poderia tentar a abertura <dessa pinha>, seguia-se outro par, até que finalmente era a vez do par felizardo que ao ter a sorte de encontrar a fita correspondente á sua abertura, conseguiam o seu objectivo.

Toda a assistência da sala, nesse momento parava a respiração, seguindo-se um forte aplauso. No seu interior estavam os prémios que seriam entregues ao feliz par premiado.

Os conjuntos musicais, vieram modernizar todo o estilo de dança. Os pares dançantes, perderam o sentir do calor humano dos seus corpos.

O espaço tornava-se pequeno para os frequentadores. Essas noites de diversão, para além de serem desejadas, eram muito agradáveis, proporcionavam um bom convívio, adquiriam-se conhecimentos com pessoas vindas de outras terras, criavam-se amizades. Com estes festejos, a colectividade adquiria alguns lucros que iriam suavizar outras despesas contraídas pelo Clube.

Esta colectividade, foi a fonte da cultura teatral, ali nasceu o Grupo Dramático Abelense Alunos Sem Mestre, em que seu autor desta celebre frase, o Sr. António Mestre, está felizmente entre nós. Num meio tão pequeno e de tão fracos recursos culturais, surgiram grandes figuras impulsionadoras dessa arte de representar quase desaparecida, que souberam levar a bom termo essa riqueza cultural a vários pontos do nosso Conselho. Tenho que obrigatoriamente recordar com muita saudade e todo o respeito que merece, uma das grandes figuras também do nosso teatro <ao qual eu tive a honra e privilégio de pertencer>, o Sr. António

Domingos Rosa. Homem que para alem da sua dedicação á Terra, em dias de festa, lançava para o ar, balões de ar quente, que pela sua graciosidade e elegância, proporcionava para alem da natural






admiração, uma enorme alegria a todos os que tinham essa feliz oportunidade. Eram os divertimentos da Época.
Pena é, que figuras com esse nível e esse espírito de iniciativa, assim como tantas outras que desinteressadamente deram tudo de si em benefício da Terra a que pertenceram e amaram, com tamanha indiferença, caíram no esquecimento, mergulhados no silêncio profundo.

Na Época, as diversões do povo, eram pouco frequentes, mas saudáveis, familiares e cativantes, a realização de qualquer festejo, era sempre com a colaboração e apoio do Sporting Futebol Clube Abelense. A Abela, não deverá esquecer-se do seu sócio fundador, que para alem da sua dedicação e empenho no desenvolvimento da cultura da nossa Terra, deixou-nos para continuidade dessa colectividade que a Abela sempre mereceu e precisa, seu filho, netos e já bisnetos que afinal houve sempre o empenho de uma quarta geração no esforço e na tentativa de tornar possível a continuidade dessa colectividade com uma história tão interessante, enriquecedora e tão digna de divulgação e registo que os Abelenses bem merecem.

A actual sede, construída em 1966 pelas mãos dos próprios associados, dispõe de um pavilhão que para além das suas actividades desportivas, disponibiliza-se para a boda de casamentos e baptizados, assim como outras festividades da população Abelense.

Meu pai, foi sócio efectivo nº 22 admitido em 1937,foi secretário deste clube em 1945 e 1948. Em 1950, fui o sócio nº413.


A Casa do Povo

Fundada em 10-4-1942, foi também um centro de diversões. Dispondo de um consultório, dando assistência médica á freguesia, sendo seu médico assistente, o Sr. Dr. António de Almeida Fernandes, sendo o seu primeiro consultório no prédio onde hoje está o Museu Rural.

Personagem brilhante, sempre respeitado e adorado pelo Povo, o edifício dispunha também de pequenos serviços de enfermagem. Era também centro de convívio onde por vezes eram exibidos alguns filmes <ambulantes> que ajudavam a aliviar o isolamento e o cansaço do dia-a-dia, a sua música, em alto som e em propaganda, era ouvida por toda a aldeia, que gentilmente a aceitava.

Meu pai, foi sócio protector nº 6 admitido em 1-1-1945. Eu fui sócio efectivo nº 708 e inscrito em 1-10-1955,tinha 18 anos de idade, era Presidente da Direcção, o Sr. Ângelo Pereira


Os apontamentos a registar, foram gentilmente cedidos pelo nosso querido conterrâneo: António Mestre


Presume-se que Abela remonta às suas origens ao ano de 1314 o que faz dela, uma das terras mais antigas do Conselho.

Numa escritura lavrada em 1813 pelo tabelião José Carlos de Sousa consta que nas festas desse ano se gastaram 20$00, metade das despesas efectuadas pela freguesia durante todo o ano, Abela tem aproximadamente 1800 habitantes numa área de 137Km2.


Confraria das Almas

Confirmada por provisão de D. Pedro II em 5 de Outubro de 1671.

Receita 17$800 Despesa 19$100



O mais antigo proprietário da Herdade da Quinta de Corona que consta nos Anais, foi Guedes de Miranda e depois D. João de Melo e em 1868 era de Jacinto Pais de Matos Falcão.

Dizem alguns historiadores eclesiásticos que S. Brissos patronato Ermida na dita propriedade antes de subir á cadeira prelatícia de Évora, de que foi 3º Bispo no ano de 305 depois de Jesus Cristo, fez vida de ermitão no lugar onde está a sua pequena capela. Daí o tirou S. Jordão, Ordenando-o sacerdote e fazendo-o coadjutor na Cadeira Eborense em que lhe sucedeu.


No ano de 1707, tinha a Abela uma população de 200 habitantes. A sua origem embora não se possa concretizar, parece-nos que deve datar do ano de 1314.


A formação geológica do Solo da Freguesia de Abela

Grande parte destes terrenos consta de areia quartzosa apresentando leitos de argila e de areia ferruginosa e depósitos de calhaus rolados de sílex reunidos algumas vezes por massa siliciosa formando jondingues bastante sólidos. È talvez o único espécime de terreno supercretácio ou quaternário que se encontra neste Conselho de Santiago.


Em 12 de Dezembro de 1709 foi explorada uma mina de galena e chumbo sulfurado por ordem do Rei D. João V na freguesia de S. Francisco da Serra.


Confraria Santíssimo Sacramento

Escritura lavrada pelo Tabelião, José Carlos de Sousa em 1813.

13-- Alqueires trigo imposto na Herd. Trancão 6$240

4-- -----------/--------/---------/----- -------Relvinhas 1$920

8-- -----------/--------/---------/-Arneiros Grandes 3$840

5-- -----------/--------/-- Censo remível Caraptal 2$400

5-- -----------/--------/--------Prédio urbano Loja2$400

9-- -----------/--------/--remível Horta de Porco4$320

Peditório no Verão esmolas da bacia e

Cruzes nos enterros------------------------------------26$00


Soma 47$00

Despesas

Festas em 15 de Agosto---------------------------- 20$00 Azeite para a lâmpada------------------------------ 8$00

Azeite para a festa e candeias-------------------- 6$00

Décima---------------------------------------------------- 1$80

Ofício para as almas de irmãos defuntos----20$00


Soma55$00


As estradas por volta de 1813/1816

As estradas do Conselho de Santiago de Cacem, são apenas umas estreitas faixas que serviam por entre os matagais e terras cultivadas, que atravessavam brejos e areais que se aprumam pelos serros e se escondem com algares profundos onde são cruzadas pelas torrentes caudalosas de Inverno.

Essas tiras irregulares obstruídas por cabeços de rochas e raízes de árvores, reduzem-se nas montanhas aos profundos carris traçados pelos veículos.

Atravessando os vales que são quase sempre o leito dos afluentes das ribeiras, o caminho perde-se muitas vezes em lodação intransitáveis e perigosos. Sem um perito é impossível que o viajante transite de noite sem perigo mesmo pelas estradas principais, porque ou se perderá ou se precipitarão no fundo de um barranco onde ninguém ouvirá os seus gritos.


Receita da Junta de Freguesia de Abela 1816

Foro de 15 Alqueires na herdade da Murteira 9$00

---/… 8----------------------------- Nas casas do Adro 4$80

---/------a dinheiro nas casas de Manuel Nunes 2$00

---/------------------------------------------ José Manuel 1$20

---/------------------------------------------ -João Sobral 2$00

---/-------------------------------------------João Pinela 1$00

Reconhecimento de assinat. de António Joaq. $120

---------/---------/----------- de António Gonçalves $120

---------/---------/------------------ de José Piranha $120

---------/---------/-----------------de Manuel Morais $120

---------/---------/------------de António Gonçalves $120

Produto das Figueiras--------------------------------2$40

-----/….. dos covais--------------------------------------4$00

Esmolas ou Ablactas----------------------------------1$00


Soma 27$980



Despesas


Guisamentos e lavagem de roupa da Igreja 6$00

Ordenado do Sacristão----------------------------4$80

Expediente da Junta e Regedorias----------- $480

Contribuição de Repartição--------------------1$830

Cêra para todo o ano-----------------------------6$00

Livros de Registo Paroquial-------------------3$40


Soma— 22$510


No ano de 1850

Nasceram 19 - homens --- 17 mulheres

Morrera 16 - -----/---- ----- 7 -----/--------

E houve 12 casamentos


Do nosso Conselho

A primeira escola feminina em Santiago de Cacem foi fundada no dia 13 de Junho de 1861 sendo sua professora a Sr.ª. D. Mariana Carolina Vilhena com a remuneração de 90$00 do Estado e 20$00 da Câmara

<Ordenado anual>.


Censo


Em 31 de Dezembro de 1863 havia em Abela


87- Proprietários

139 Jornaleiros

7 Sapateiros

3 Carpinteiros

55 Criados e criadas

1 Ferrador

2 Taberneiros

2 Ferreiros

1 Tendeiro

2 Lavadeiras

10 Guardadores de gado

5 Pedreiros

6 Negociantes

9 Tecedeiras

6 Moleiros

1 Cardador

25 Mendigos e mendigas

6 Pessoas ausentes

9 Pessoas fora da Terra



Abela nos meus verdes anos


O padre que conheci com residência em Abela, foi o padre Maia, que fez a sua vida, que tinha como companheira uma senhora de nome Maria Rosa e um de nome Mainha e que a sua ocupação era guardar uma cabrinha branca. Todos os bebes que o padre Maia baptizava ficavam como seus afilhados e teriam de lhe beijar a mão quando se encontravam. Eu fui um deles beijar-lhe a mão e chamar-lhe padrinho.

Vivia nesse tempo na nossa aldeia de Abela, o Sr. Pereira com uma farmácia do qual o padre Maia se valia muitas vezes. Um dia a Sr.ª. Maria Rosa adoeceu lá vai o compadre Maia estar com o compadre Pereira no que podia valer á comadre Maria Rosa. Depois das suas sábias observações, o Sr. Pereira diz para o compadre Maia: compadre, a comadre Maria Rosa é um perigo. Alguma vez que a comadre volte a mijar grosso, venha a correr avisar-me.

Certa noite ouve o Sr. Pereira bater-lhe á porta. Ó Pereira, ó Pereira levanta-te que a minha Maria Rosa já mija grosso. Foi um facto verdadeiro e não uma história.

A vida continuou em Abela, e os pobres aldeões lá iam para o trabalho do campo, ceifando, terrando moreias, semeando o trigo e outros cereais, guardando porcos e outro gado. Era a vida há 70 anos, com o rodar dos anos a vida evoluiu um pouco e veio morar para a Abela, o Sr. Dr. António de Almeida Fernandes, digníssimo médico de conhecimentos altos da sua profissão. Veio também morar para a Abela um professor de altos conhecimentos da sua profissão de nome António Joaquim de Carvalho natural de Valezim. Alma boa que ainda me leccionou e o qual ganhou a estima da população. O Sr. Dr. Almeida Fernandes os seus serviços médicos são impáveis. É altamente responsável pelo seu saber em tratamentos que mesmo hoje, só em Lisboa se executavam.


Como sinal de gratidão, deixo aqui um carinhoso abraço pela maneira tão espontânea que disponibilizou estes apontamentos tão interessantes, que certamente contribuirão para enriquecer a bonita e interessante história desta Terra, que afinal, todos amamos.


Obrigado Sr. António Mestre e que Deus vá dando saúde e continuidade aos seus jovens e bonitos 90 anos

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Barbeiros e seus encargos


Desde 1948 a 1995, existiam no Conselho, 78 estabelecimentos com alvará. A barbearia e a sapataria eram pontos de encontro propícios a colher as novidades mais recentes, locais indicados também para dar largas às mentiras aos mais curiosos. Até cerca dos anos 40/50, os barbeiros possuíam alguma actividade ambulante, deslocavam-se às feiras onde montavam uma pequena barraca, sempre junto ao local onde houvesse água ou junto a uma taberna. Para além da missão de barbeiros, desempenhavam a missão de sangradores, de dentistas onde exibiam uma tableta afixada por cima da porta a informarem os clientes que ali se arrancavam dentes.

Dizia o velho ditado na época: quem lhe dói um dente, vai ao barbeiro. Após a extracção, e certamente depois de alguns gemidos, a desinfecção seria provavelmente, bochechando um copo de aguardente.

Faziam de curandeiro, acudiam aos domicílios, aplicavam salapismos cáusticos «cataplasma aplicada sobre a pele», faziam clisteres, curativos, escaldavam pés, circuncisões, cortavam abcessos, extraíam dentes, vacinavam, acudiam em casos de mordedura de cobra etc.

Na minha opinião pessoal, esses barbeiros hoje, seriam grandes técnicos no campo da medicina.


As feiras

As feiras até aos anos 50/60, proporcionavam grande movimento em toda a área da aldeia, ali, aparecia de tudo para a realização de qualquer negócio, onde eram comprados todos os utensílios necessários ao lar. Realizavam-se negócios que permitiam a melhoria da situação financeira, ali se efectuavam as mais variadas transacções. As deslocações até á feira, eram demoradas, por vezes levavam dias até á chegada, principalmente quando acompanhavam gado para o negócio.

Os confortáveis transportes da época, ou eram montados numa burra equipada com albarda, em que "os passageiros" se rendiam no percurso, ou numa carroça puxada por um burro ou muar, ou numa carreta puxada por uma junta de bois. Os mais desfavorecidos, tinham as veredas que rasgavam todo o terreno para tornar mais curta a distancia a percorrer a pé.

As diversões compostas por: circo, carrossel e por vezes havia cinema. A pequena barraca dos <ROBERTOS> era o encanto da pequenada e até dos adultos. As barracas alinhadas, pareciam avenidas dando uma visão interessante e um colorido a todo o recinto da feira <que era enorme>.

Eram dias de alegria para todos os que durante o Ano estiveram privados desses momentos de prazer e verdadeira alegria. As ruas da aldeia e arredores, tornavam-se pequenos, para tanto movimento. Era também a altura que se aproveitava para tirar fotografias. Frente á máquina <caixote> o cliente olhava sério para a mão do fotografo que lhe dizia: Olha o passarinho! E Clix, já estava, era só esperar que as fotos secassem e estavam prontas.

Compravam-se os brinquedos para as crianças, os desfavorecidos, seriam eles os próprios a construírem os brinquedos do seu gosto. A cortiça e a madeira eram as matérias mais utilizadas na sua construção.

Com todo este movimento, o comércio da aldeia também era beneficiado.

Actualmente, os grandes centros comerciais dispõem com grande variedade e facilidade de escolha, tudo o que é necessário ao lar. Hoje, as feiras organizam-se em poucas horas. O visitante, toma o pequeno-almoço em casa, vai á feira/festa, e regressa a casa para almoçar, viagens rápidas que não permitem contactos alongados. As crianças perderam o seu convívio infantil, os brinquedos electrónicos, roubaram-lhe a oportunidade de viver a sua meninice saudável em contacto com outras crianças, não saberão nunca valorizar um brinquedo. É o preço do progresso.

A feira da Abela, pela sua grandiosidade, ficará nos registos para a História do nosso Conselho e Distrito.


Iluminação das ruas da aldeia e habitações nos anos 40/50

Quando a claridade do dia terminava, as candeias que funcionavam a petróleo ou a azeite, entravam em funcionamento, iluminando com uma claridade reduzida o interior das habitações. O seu combustível, proporcionava uma chama envolta de muito fumo, fumo negro e intenso, não havendo perigo de intoxicação porque os telhados que cobriam as casas, estavam á vista, podendo do seu interior, observar-se um pouco a claridade do luar.

Em tempos de chuva mais intensa, sentia-se alguma entrada de água por entre as telhas.

As lareiras sempre acesas no Inverno, para além do conforto que proporcionavam, dava claridade á casa, o candeeiro apagava-se para poupar petróleo. As ruas da aldeia, eram iluminadas com candeeiros a petróleo também, colocados em pontos altos e dispersos,

proporcionavam uma melhor visibilidade

Em 1957, é finalmente inaugurada a luz eléctrica, tornando possível o uso dos mais variados utensílios eléctricos, hoje indispensáveis para o lar


Comunicação entre os povos nos anos 30/40/50

A comunicação entre familiares ou outras situações á distancia, só era conseguida quando se ia: ou a pé, montado num burro ou de bicicleta <pedaleira> que era raras. As distâncias eram encurtadas, aproveitando-se as veredas polidas pelo seu uso contínuo, tornando assim mais rápida a comunicação. Hoje, essas veredas e esses caminhos, outrora tão frequentados por pessoas e até mesmo animais, já quase não existem.

A inauguração do telefone público no café do Sr. Manuel Venâncio em 1952, veio facilitar os contactos entre as pessoas. Deixou de ser uma situação de angústia, para uma situação de maior tranquilidade, deixaram de ser vividas aquelas horas de amargura e desespero.

Hoje o telemóvel e o computador, em qualquer parte do Mundo, com toda a comodidade e em poucos segundos, se estabelece contacto para locais nunca imaginados.


Assistência á Saúde, do Passado e Presente

Em toda a freguesia quando acontecia um acidente físico ou estar doente, o familiar deslocava-se numa carroça, puxada ou por uma muar ou um burro, indo em procura do médico que era transportado nesse meio de transporte sem o mínimo de comodidade para o médico que iria assistir ou o ferido ou o doente. Os caminhos de difícil acesso, proporcionavam desconforto. Em casos mais urgentes, o ferido ou o doente, ocupavam a carroça e com ou sem dores ou queixumes, tinham que suportar todo o trajecto até chegar á presença do médico para então ser assistido.

Poderiam classificar-se estas situações, uma prova de resistência humana.

Graças ao empenho, dedicação e profissionalismo, a Abela estará eternamente grata a esta grande figura que dedicou a terra alheia e diferente á sua personalidade, a sua vida profissional como médico, o Sr. Dr. António de Almeida Fernandes, como sinal de gratidão e para que seu nome não seja esquecido, a Terra a quem essa grande personagem dedicou a fase principal da sua vida como médico, estará para sempre gravado o seu nome numa das ruas principais de Abela.

Hoje, em caso de acidente corporal, ou estar doente, basta um simples telefonema, por vezes de locais de difícil acesso, graças aos telemóveis se tem salvado vidas.

As ambulâncias e até mesmo o helicóptero prestam assistência rápida e segura, poupando-se muitas vidas humanas.


O consumo de água no lar

A água que era consumida em casa, era transportada em cântaros de barro <quartas>, por vezes a grandes distâncias. Bastava saber-se que havia um poço em determinado local que continha água boa para se beber, <água potável> como por exemplo; o poço do Azinhal que matou a sede a tanta gente.

Esses cântaros, vinham apoiados á cabeça das mulheres sobre a protecção de um pano enrolado em caracol, <rodilha>

Em casa, os cântaros apoiados no poial <local sempre á entrada da casa do lado direito>, davam assistência ao consumo da casa. Um cocharro <peça artesanal feita de cortiça> servia para todos saciarem a sede, "um pormenor interessante", a maneira de pegar no cântaro e pegar no cocharro, proporcionava a que todos normalmente bebessem pelo mesmo lado desse recipiente. A água das fontes, dispersas pela freguesia existiam, a fonte de Vinha, do Luziu, da Figueira e tantas outras, eram protectoras dos corpos exaustos pelo calor e se deliciavam com a frescura e pureza dessas águas, outrora cristalinas.

Diz o velho provérbio: Quem passa á fonte e não bebe, não sabe o que perde.

Hoje, a água canalizada, para além da comodidade, tem a utilidade de se dispor dela, quente ou fria, contribuindo grandemente para a higiene pessoal.


O trabalho Rural na Época

Todo o trabalho rural era efectuado pela mão do homem e da mulher também. As terras eram lavradas com muares ou burros, em algumas situações, com uma junta de bois. A semente, os adubos e as químicas eram lançados á terra pela mão do homem. Todos estes trabalhos eram efectuados no seu tempo próprio sem se temer a chuva, o frio ou o calor, <por vezes abrasador>. Para tornar mais produtiva sementeira era mandado aos trabalhadores, terrar moreias. O mato era arrancado e colocado sobreposto ao comprimento e depois coberto de terra, quando estava seco, era queimado. Era notável a diferença do cereal nascido na área onde foram queimadas essas moreias, era sempre muito mais produtivo.

A ceifa era feita á mão com a ajuda de uma foice. Grandes ranchos de homens e mulheres, com sol escaldante, deixavam atrás de si, molhos de trigo ou cevada que depois eram transportados para a eira <local onde eram amontoados os cereais> onde a debulhadeira separava o grão da palha.

A aguadeira, <mulher nomeada e responsável pelo abastecimento de água aos ceifeiros>, o calor era muito, agravando o consumo de água, o que agravava a difícil tarefa dessa mulher.

A coqueira, era a mulher responsável pela assistência

Às várias panelas de barro que continham o almoço de cada trabalhador, o lume em rectângulo, com as panelas ao seu redor, concluíam a cozedura dos alimentos. Trabalho de muita dureza que todos os dias neste período do ano, se repetiam e tantas vezes praticado por corpos mal alimentados porque na época a vida económica era muito difícil. Trabalhava-se desde o nascer ao pôr-do-sol recebendo-se um salário diário, que na moeda actual o euro, representaria 5 a 7 cêntimos.

Os celeiros enchiam-se de trigo, contribuindo assim para o enriquecimento dos patrões e do país.

Hoje, as modernas máquinas agrícolas, já equipadas com ar condicionado, o seu manipulador não têm frio nem calor, e a sua utilidade, substitui quase por completo a mão do homem outrora escravizada.


O progresso em Abela

A 1 de Maio de 2008, é inaugurado em Abela, O Museu Do Trabalhador Rural. Composto de alfaias agrícolas talhadas pela mão do homem que pela sua riqueza cultural será um exemplo para que a actual juventude valorize o elevado grau de dificuldade na construção, uso e utilidade desses <hoje toscos> acessórios agrícolas que contribuíram para o desenvolvimento da Terra e enriquecimento do País. O nosso Museu, tem um sem fim de obras de arte no campo agrícola que delicia os seus visitantes. Os jovens de hoje, serão os homens do futuro a quem lhes cabe a responsabilidade de continuidade e prestígio á nossa Terra no seu desenvolvimento ao que os seus ascendentes conseguiram manter e melhorar com tantas dificuldades financeiras, onde os conhecimentos escolares, eram raros e por vezes nulos, mas o saber e a vontade do progresso era enorme.

Abela, uma aldeia pequena mas que gerou pessoas tão grandes <no seu saber e sentir> composta com uma história tão vasta, bonita e de tão grande interesse cultural.

Aqui fica um convite a todos os que a queiram visitar esta ABELA encantadora, que terá sempre os seus braços abertos para receber os seus visitantes .



Pequena Cronologia dos moinhos de vento e moinhos de água e a origem do pão.


No ano de 1182, há notícias que um moinho de vento de eixo horizontal na região de Lisboa que foi doado ao Mosteiro de S. Vicente de Fora.



No ano de 1262 teria existido um moinho de vento de eixo horizontal em Infonte, no termo de Óbidos como é referido no Tombo das propriedades do Mosteiro de Alcobaça.


Um Século mais tarde, terão sido aplicadas aos moinhos de vento as velas triangulares em pano.


No ano de 1386 terá tido lugar a construção do moinho de maré de Aldeia Galega e do moinho de maré do Montijo


No ano de 1403, D. Nuno Alvares Pereira (1360 a 1431) mandou construir o moinho de maré de Corroios e os padres Carmelitas promoveram a construção de alguns moinhos de maré na margem Sul do Tejo.


Em 1960 ainda havia cerca da 5.000 moinhos de rodízio em Portugal e em 1968, segundo Jorge Dias havia 10.000 moinhos em funcionamento em Portugal sendo 3.000 de vento, e 5.000 de água


Na idade média os grãos de trigo, inicialmente eram triturados em moinhos de pedra manuais, que evoluíram para o de pedra movido por animais e depois para os moinhos de água e finalmente para os moinhos de vento. Apenas em 1874 apareceram os moinhos movidos a vapor.


Supõe-se que os moinhos de água tiveram origem na época em que eram feitos buracos e fendas nas rochas para se abrigarem. Este período, vai de 7.000 a 10.000 anos antes da nossa Era.



O Pão


A história do pão é tão antiga que é até difícil dizer com precisão quando e como ele apareceu. Calcula-se que tenha surgido á cerca de 12.000 anos, juntamente com o cultivo do trigo na região de Mesopotâmia, onde actualmente está o Iraque. O pão é um dos mais antigos alimentos do Mundo.



Focando um tema de tão elevado valor histórico, o Pão, não consegui resistir á tentação de relatar a já tão conhecida mas sempre comovente, a História de, O Milagre das Rosas, da Rainha Santa Isabel


Contava-se que no ano de 1333 em Portugal, houve uma fome terrível, durante a qual nem os ricos eram poupados. Reinava então, D. Dinis, casado com D. Isabel, uma rainha cheia de virtudes. Para aliviar a situação de fome, ela, a rainha, empenhou suas jóias e mandou vir trigo de lugares distantes para abastecer o celeiro real e assim manter seu costume de distribuir pão aos pobres durante as crises. Num desses dias de distribuição apareceu inesperadamente o rei. Temendo a censura, ela escondeu os pães no regaço. O rei percebeu o gesto e perguntou surpreso: Que tendes em seu regaço?

A rainha ergueu o pensamento ao Senhor, e disse em voz trémula:

São rosas, Senhor.

O rei replicou:

Rosas em Janeiro?

Deixai que as veja e aspire seu perfume.

A Rainha Isabel abriu os braços e no chão, para pasmo geral, caíram rosas frescas, perfumadas, as mais belas então vistas.

O rei D. Dinis não se conteve e beijou as mãos da esposa, retirando-se enquanto os pobres gritavam:


Milagre, Milagre, Milagre.















Relatado e transcrito por,

V.Marques

22/06/2009